quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

"Atividade mental altera mecanismos biológicos do cérebro"


Pesquisadores do Instituto Karolinska, na Suécia, demonstram pela primeira vez que o treinamento ativo da memória de trabalho resulta em alterações visíveis no número de receptores de dopamina no cérebro humano.
O estudo, publicado na revista Science, foi feito com o auxílio de imagens captadas por Tomografia por Emissão de Pósitrons, uma técnica utilizada em medicina nuclear capaz de revelar complexas interconexões entre cognição e a estrutura biológica do cérebro.
"Não apenas a bioquímica do cérebro que serve de base para a nossa atividade mental; nossa atividade e nossos processos de pensamento também podem afetar a bioquímica", diz o professor Torkel Klingberg, que coordenou o estudo. "Isto não havia sido demonstrado em humanos antes, e abre uma enxurrada de questões fascinantes".
O neurotransmissor dopamina desempenha um papel fundamental em muitas funções cerebrais. Interrupções no sistema de dopamina pode prejudicar o funcionamento da memória de trabalho, tornando muito mais difícil para se lembrar de informações por um período curto de tempo, como quando se está tentando resolver um problema.
Já se comprovou que uma memória de trabalho deficiente é um importante fator no surgimento de problemas cognitivos em doenças como a esquizofrênia e o transtorno de déficit de atenção e hiperatividade.
O professor Klingberg e seus colegas já haviam demonstrado anteriormente que a memória de trabalho pode ser melhorada com algumas poucas semanas de treinamento intensivo. Agora em uma colaboração com o Instituto do Cérebro de Estolcomo, os pesquisadores deram um passo adiante. Ao monitorar o cérebro usando a tomografia por emissão de pósitrons (pet scan) eles confirmaram que o treinamento intensivo do cérebro leva a alterações no número de receptores D1 de dopamina no córtex cerebral.
A tomografia por emissão de pósitrons é uma técnica de imageamento médico baseada no decaimento de isótopos radioativos que é capaz de produzir imagens tridimensionais do movimento de substâncias sinalizadoras no interior de um organismo vivo.
Os resultados terão importância significativa para o desenvolvimento de novos tratamento para pacientes com deficiência de aprendizado, tais como aquelas relacionadas com o déficit de atenção e hiperatividade, derrames cerebrais, síndrome da fadiga crônica e mesmo perdas cognitivas associadas ao envelhecimento.
"Somente as alterações no número de receptores de dopamina em uma pessoa não nos dão todas as chaves para explicar a memória fraca", diz Lars Farde, outro pesquisador que participou do estudo, "Nos também temos que verificar se as diferenças podem ter sido causadas por uma falta de treinamento de memória ou por outros fatores ambientais. Talvez nós sejamos capazes de encontrar novos tratamentos, mais eficazes, que combinem medicações e treinamento cognitivo. Neste caso, nós estaremos em um território extremamente interessante", diz Farde.

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