quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

"A alfabetização promove reorganização do cérebro, mesmo na idade adulta."


Uma pesquisa coordenada pela neurocientista Lúcia Willadino Braga, pós-doutorada no Hospital de la Piteé-Salpêtriere, na França, constata que a alfabetização reorganiza o cérebro mesmo quando a pessoa aprendem a ler já adulta.
Cientistas compararam a atividade cerebral de analfabetos com a de alfabetizados e verificaram que aprender a ler altera funções do córtex.
O córtex visual reorganiza-se quando a pessoa aprende a ler por meio de uma "competição" entre a atividade nova de leitura e as atividades mais antigas de reconhecimento de faces e de objetos. Durante a alfabetização, as respostas às faces diminui levemente à medida que a competência para a leitura aumenta na área visual do hemisfério esquerdo. Ou seja, a ativação às faces desloca-se parcialmente para o hemisfério direito. Não se sabe ainda, se essa competição tem consequências funcionais para o reconhecimento ou a memória de faces.
No caso dos analfabetos, essa área visual do hemisfério esquerdo, que nos leitores descodifica as palavras escritas, só controla o reconhecimento visual de objetos e faces.
O estudo analisou a ressonância magnética funcional a atividade cerebral na totalidade do córtex de 41 voluntários brasileiros e 22 portugueses. Do total de 63 participantes, 10 eram analfabetos, 22 foram alfabetizadas na idade adulta e 31 na infância. Eles foram submetidos a uma bateria de estímulos, como frases faladas e escritas, palavras faladas, rostos e objetos.
Como a maioria dos efeitos do aprendizado da leitura no córtex cerebral é visível, tanto nas pessoas escolarizadas na infância, quanto nas que foram alfabetizadas na idade adulta. O grupo concluiu que os circuitos da leitura permanecem plásticos durante toda a vida.
Como a escrita é invenção relativamente recente na história da humanidade, não é possível afirmar que tenham influenciado a evolução genética do cérebro humano. "O seu aprendizado pode originar-se na reciclagem de regiões cerebrais pré-existentes e reservadas a outras funções, porém suficientemente plásticas para passar a dedicar-se à identificação dos sinais escritos e a sua ligação com a linguagem falada", diz Lúcia.

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